Mulheres do Sul estão insatisfeitas com suas condições, revela pesquisa
Levantamento feito exclusivamente entre mulheres pelo Observatório FEBRABAN mostra que 74% delas na região Sul estão descontentes com a forma pela qual são tratadas na sociedade
Uma pesquisa feita exclusivamente com mulheres pelo Observatório FEBRABAN mostra que a brasileira está insatisfeita ou muito insatisfeita com a forma como as mulheres são tratadas atualmente na sociedade brasileira -- e o quadro não difere na região Sul.
Em sua décima edição, o Observatório FEBRABAN, pesquisa FEBRABAN-IPESPE, mostra que oito em cada dez entrevistadas se dizem insatisfeitas ou muito insatisfeitas com essa condição. No Sul, esse percentual atinge 74%. A violência e o assédio, seguidos do feminicídio e da desigualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres são os principais pontos negativos destacados na pesquisa.
Entre os dados que chamam a atenção na região estão o fato de que 27% das mulheres acham que existe desigualdade na divisão do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos, percentual acima da média brasileira, que é de 20%. No entanto, as diferenças de salários e oportunidade no mercado de trabalho foram o item mais citado como exemplo de desigualdade (31%).
O Sul também é mais enfático ao apontar que existe diferença na expectativa sobre o papel e potencial do homem e da mulher (24%, contra 18% da média nacional).
As mulheres da região são, ainda, as que mais concordam com a afirmação de que a desigualdade entre gêneros diminuiu nos últimos dez anos (63%, contra 54% da média nacional). As sulistas que disseram que a situação não se alterou somaram 19% e as que afirmaram que o quadro piorou muito ou piorou atingiram 15%.
Para 68% das entrevistadas, as mulheres não têm direitos iguais ao dos homens, muito menos remuneração equivalente (82%). Quanto às oportunidades de educação, as mulheres sentem maior conforto: apenas 31% disseram que elas não são iguais às dos homens. Com relação à liberdade sexual, 69% acham que ela não é igual à do sexo masculino.
Questionadas sobre as suas principais preocupações, as entrevistadas citam em destaque (como primeira resposta) a violência e o assédio contra a mulher (42%). Entre os principais motivos para os crimes violentos, elas citam o machismo (34%) e a impunidade (21%).
A maioria (52%) viveu ou tomou conhecimento de mulheres que foram vítimas de situações de violência nos últimos 12 meses.
A grande maioria das entrevistadas (66%) declara saber que o Brasil ocupa a quinta posição em mortes violentas de mulheres.
As situações mais comuns de preconceito ou discriminação que elas viveram ou presenciaram aconteceram no trabalho (47%), escola ou universidade (40%), festas ou locais de entretenimento (55%), na rua (66%) ou no transporte público (56%).
Ao serem indagadas onde mais ocorrem situações de violência contra a mulher, 77% afirmaram como primeira resposta que elas acontecem em casa.
Entre aquelas que já sofreram ou tomaram conhecimento de violência, 72% disseram que o agressor foi uma pessoa conhecida. Entre essas, 77% relataram que o autor foi o cônjuge, companheiro ou namorado.
O levantamento Mulheres Preconceito e Violência foi realizado entre os dias 19 de fevereiro a 2 de março, com 3 mil mulheres nas cinco regiões do país. Ele traça um amplo quadro desse problema no país e se alinha aos esforços de investigar a situação das mulheres brasileiras e de combater o preconceito e a violência. É superlativa a impressão, no levantamento, de que os casos de violência contra a mulher aumentaram durante a pandemia da Covid-19.
"Indo direto ao ponto, a pesquisa nos faz um sério alerta de que, mesmo com os avanços dos últimos anos, as mulheres no Brasil ainda são, com frequência, vítimas de violência, assédio, preconceito e discriminação e de que precisamos de políticas e ações afirmativas que enfrentem esse grave problema social", diz Isaac Sidney, presidente da FEBRABAN. "Não podemos pensar em desenvolvimento e crescimento social e até econômico sem combater esse tipo de mazela."
Caracterizando a violência contra a mulher no Brasil, quase oito em cada dez respondentes indicam a casa como o lugar onde as situações de violência, ameaça e assédio ocorrem com mais frequência e sete em cada dez citam pessoas próximas ou conhecidas - atuais ou antigos cônjuges, companheiros e namorados -- como principais agressores.
"Se esse quadro, por si só, já evidencia a situação de vulnerabilidade a que as mulheres estão expostas, ele se agrava quando metade declara que as vítimas não procuram ajuda ou não denunciam. E isso acontece em função do medo, principalmente de represália ou perseguição, e também de serem desacreditadas", aponta o sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do Conselho Científico do IPESPE.
Sobre o IPESPE
O Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE), fundado em 1986, é uma das instituições mais respeitadas do Brasil no setor de pesquisas de mercado e opinião pública. E conta com um conselho científico formado por especialistas de diversas áreas, o qual é presidido por Antonio Lavareda, mestre em sociologia e doutor em ciência política.
Tem equipes operacionais e consultores em todos os estados do País e atuação em âmbito nacional e internacional, sempre atualizado com o que há de mais inovador em técnicas e sistemas de pesquisas. A experiência, o rigor técnico e a agilidade do IPESPE têm se transformado em ferramentas fundamentais para que empresas privadas, governos e organizações possam conhecer melhor o seu público e o mercado.
Sobre o OBSERVATÓRIO FEBRABAN
O OBSERVATÓRIO FEBRABAN -- Pesquisa FEBRABAN IPESPE, foi lançado em junho de 2020 com objetivo de se tornar uma fonte de informações sobre as perspectivas da sociedade e o potencial impacto econômico-financeiro, ouvindo a população e estimulando o debate em diversos setores. Com periodicidade trimestral, a iniciativa é parte de uma série de medidas da Febraban para ampliar a aproximação dos bancos com a população e a economia real, de forma cada vez mais transparente.
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